Meu querido,
Tens-me feito falta. Já são tantas as vezes que me lembro de ti, que me lembro de como eram boas as horas tardias a que chegava a casa depois de longas conversas, todas aquelas conversas que tinhas comigo para me fazer ver que nada é por um acaso. Tudo tem uma explicação e que eu mais tarde ou mais cedo vou encontra-la. Fazes-me falta. Faz-me falta a maneira como pensas, a maneira como ages, a maneira como me explicas o suficiente e o insuficiente, a maneira como me apoias e sabes ouvir-me. Fazes-me falta. Toda a nossa história faz-me falta. E eu sei que te prometi sempre que por mais pessoas que entrassem na minha vida, tu nunca irias sair dela, nem deixaria que te ausentasses, mas acabou por acontecer precisamente o contrário. Tu já não estás, ou melhor não estás como estavas. Os teus telefonemas deixaram de existir tão frequentemente, e as tuas conversas já não são as mesmas. Não sei se isto é apenas uma fase da vida, onde precisamos mesmo de sentir a falta um do outro, para voltarmos a descobrir que o sentimento que temos é sempre mais resistente que tudo. Se é isso, eu já sinto falta demais. Se eu pudesse ia agora mesmo, nem que fosse a pé ter contigo, nem que fosse só para te ouvir falar. Tenho saudades disso. De te ouvir, e de sentir que estás por perto. Como um irmão, como um elemento da minha família, mesmo que não sejas do mesmo sangue que eu. Adoptei-te para a vida, e gostava que continuasse a ser assim. Porque nem a distância, nem os problemas, nem os “outros” são justificações para um afastamento tão grande. Eu gostava também de ganhar forças para te ajudar, porque no fundo por mim eu chegaria a todo o lado, mas nem sempre me sinto capaz disso, nem sempre consigo ser a “mulher” que já fui um dia. Agora sinto-me incapaz de suportar tanta dor. E tu és das pessoas que mais dor me causa, não te culpabilizo, apenas te aconselho: pede à vida, que nos traga de volta. Pede-lhe por mim, que te ajude e que me traga coragem para reconstituir o fruto da nossa cumplicidade. Gosto muito de ti, é isso que eu não quero que duvides, nem hoje, nem amanhã, nem nunca.