quarta-feira

Cartas perdidas


Estava ali, contigo, com o meu coração nas mãos, com medo, com falta de qualquer coisa, sem argumentos, com muita vontade de te dizer algo bonito e sentido, algo que te fizesse parar no tempo e te ajudasse a ser ainda mais feliz. Como quando te escrevo, ou quanto te dou aqueles beijos vindos do nada mas que sabem a pouco. Talvez eu saiba mesmo como te fazer sorrir, mas nem sempre consigo mete-lo em prática. Gostava de te dizer mais vezes o quanto te amo, e todas as vezes que me passa pela cabeça levar-te daqui. Gostava de te dizer tudo. Talvez falta de coragem, ou medo, não sei. Mas às vezes penso bem no assunto e sinto-me mal comigo própria. Parece que tenho muros na garganta, que não me deixam trepar, atrapalhando-me sempre a maneira como te falo. Quero que saibas que já fiz um esforço para mudar isso, fiz um esforço porque quero amar-te da maneira que mereces, da maneira que eu tanto quero. E continuava ali, deitada ao teu lado. De sorriso no rosto e com uma grande vontade de te abraçar. Mas havia qualquer coisa que se tornava mais forte e a vontade tornava-se em medo. Medo de o fazer, medo da tua reacção, medo talvez de ti. Não por pensar que me irias tratar mal, mas sim por pensar demais, e questionando-me sempre se querias receber aquele abraço. Recuei, tentava não pensar na vontade devastadora que me fazia mergulhar sobre o teu sorriso. Parecendo-me inevitável conter, fiz um esforço e falei-te do tempo, falei-te de como estava bonito, querendo eu dizer que estava tão bonito quanto tu. Querendo sempre elogiar-te, transcrevendo a verdade. Tu, sempre muito directo e verdadeiro, dizias-me que nunca esperaste ter uma mulher tão diferente como eu, nunca pensaste que na tua vida fosse entrar alguém assim, alguém que tu dizes amar mais do que a ti próprio. Estou cá para confirmar isso, confirmo e volto a confirmar que me dás todo o amor que tens, e que carinho nunca me faltou. Calavas-me, como sempre. Com todas essas palavras. Brincavas com os meus cabelos e dizias-me ao ouvido o nome tão bonito que me chamas e eu adoro “fofinha”, de uma maneira doce e formal. Nunca conheci ninguém assim, sabias? Sinto que tenho um tesouro entre mãos e que não o posso nem quero perder. Continuávamos a olhar-nos fixamente, sem desviar o olhar, até que uma lágrima cai sobre a minha cara, e tu me dás a mão com muita força, e dizes:

“Não gosto de te ver chorar. Aperta-me a mão e deixa essas lágrimas irem embora.”
“Tenho medo que tu vás com elas.”
“Porque é que isso iria acontecer?”
“Não sei. Contínuo com medo.”
“Sabes que o medo faz mal às pessoas que abrem o coração para amar. Não sabes?”
“Sei. Mas eu não tinha nada, agora de repente acabei por ganhar tudo.”
“Referes-te ao quê?”
“A ti.”

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