sábado

Pensador


Há um certo peso que me subcarrega os ombros, não tenho um nome definido para lhe chamar, mas já me disseram que é cansaço, falta-me saber de quê. Procuro em todos os buracos que o meu passado me deixou, em todas as feridas que o meu corpo ainda sente, e todas as marcas que o meu presente me tem causado; não encontro respostas, estas estão difíceis no caminho da descoberta. Nunca pensei ser fraca de memória ao ponto de nem saber o que neste preciso momento faço aqui. Esse peso leva-me a isto, leva-me a incertezas, a dúvidas, a angústias, a medos devastadores. Mas de uma coisa eu terei cem por cento de certezas, eu conheço-me, e sei quem sou, apenas o estado do tempo não ajuda a questões sobrepostas a outras. Questões como esta que referi no início, questões que me fazem cair de pés juntos no chão, que me fazem isolar-me de tudo e de todos. Chego a pensar que só quem sente a solidão é que é capaz de falar sobre ela e sobre todos os pontos que ela trás, talvez eu esteja a passar por isso, não por estar realmente sozinha, mas por me sentir assim. Por tantas voltas que a minha vida já deu, e tantas estradas que o meu coração submeteu-se a ultrapassar, teria que chegar a altura em que eu ia cair em mim mesma e ia ter que deixar o meu interior falar mais alto do que a minha própria voz. Estou rodeada de pessoas boas, más, e outras intermédio dos dois, mas perto de mim tenho pessoas diferentes, diferentes em tudo, porque a palavra diferente não serve só para elogiar um grande amor, mas sobretudo para nos mostrar que existem pessoas que se conseguem realmente destacar e essas eu tenho-as comigo, mesmo que poucas, tenho-as. E eu sei que se alguma coisa me faltar algo, ou se alguma vez me sentir fraca, todas elas vão empenhar-se em mim e no meu bem-estar. Enquanto penso nisto tudo, neste assunto de cansaço, possivelmente, (re)vejo todos os episódios da minha vida, pelos quais já passei, pelos quais já dei e recebi muito mais do que um olhar, muito mais do que um gesto, e até muito mais do que um carinho. Tudo isto por entre coisas más e boas, tudo isto para referir que viver também cansa, mas tem as suas vantagens, como tudo. E neste momento a minha maior e melhor vantagem de viver é o olhar que me persegue o meu estado de espírito e que me dá forças para só desistir em último caso, seja do que for.

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