Não me deixes

"Não sei. Talvez. Ela sabia perfeitamente que nunca mais o iria ver, então aproveitou todos os minutos que pode para olhar para ele. E quando a porta do elevador se fechou, ela só queria descer, e subir, e descer outra vez. Tinha medo. Talvez fosse isso. O mundo estava apagado, era como se agora fosse tudo a preto e branco, sem som e sem legendas. Não tinham trocado uma palavra sequer naquele dia, mas ambos sabiam que a partir dali não havia mais nada a fazer."

O nosso elevador parou, está perplexo no meio do nada, onde eu jamais pensei pertencer, pelo menos nesta nova vida contigo. Eu prometi(-nos) que não deixava nada por fazer/dizer, iria deixar as minhas marcas em tudo o que fosse teu, que por ventura era meu também. O que o vento está a levar é algo que em tempos nos pertenceu, e que ambos estamos a facilitar demasiado a sua ida, coisa estranha esta, promessas que eu pensei serem cumpridas e afinal não me deste sequer tempo para isso. Perguntei-me vezes sem conta durante toda esta noite, onde estás, com quem, e se ainda te invado o pensamento. Confesso-te que tenho medo que já não queiras pensar em mim, que agora a dona do teu coração deixe de ser eu, tudo isto ainda me faz uma certa confusão. Afinal estou de novo num buraco sem fundo. Estou de novo a escorregar na vida, e a deixar que me dominei por completo. Estou a perder-te. Mas ouve: eu não me consigo cansar de esperar, anseio pelo dia que me vais voltar a chamar de amor, e que carregas no botão do elevador e o fazes andar, nunca para trás, sempre para a frente. Eu confio nesse grande coração que tu transportas. Eu confio.