terça-feira

das ultimas vezes


"Nesse fim-de-semana fugiste porque não me querias ver. E pela primeira vez em quase um ano não me questionei porquê. Não procurei no meu pensamento articulado, habituada a encontrar respostas para as eternas questões do coração, explicações remotas e próximas para a tua atitude. Ainda pensei em ti, todos os dias, ainda tive saudades tuas, mas saudades um do outro é algo que vamos sentir sempre, não é? Quando duas pessoas foram tão próximas como nós, e viveram essa proximidade de uma maneira única, aquilo a que tão raramente podemos chamar de intimidade, há marcas que ficam para sempre na nossa memória, sendo por isso inútil, e até ingénuo, tentar apagá-las. É mais fácil arrancar uma árvore à terra com todas as suas raízes do que esquecer a intimidade. Tu vives em mim por tudo o que representaste de bom e que foste de mau. E, no entanto, não tenho por ti nenhum sentimento de raiva, de revolta, de tristeza ou de desejo de esquecimento por todas as desilusões e dissabores que me causaste; fui eu que deixei que me fizesses mal e sei melhor do que ninguém que nunca me quiseste magoar. Nunca queres fazer mal a ninguém, é esse um dos teus defeitos mais perigosos. Voltando à palavra perigoso que em tantas circunstâncias utilizaste em relação a mim, à nossa paixão descontrolada, à sede devastadora que te dominava os sentidos sempre que estavamos juntos, lamento chegar á conclusão de que foste muito mais perigoso para mim do que o contrário; eu pensava que vivias numa espiral e acreditava que podia, com todo o amor que tinha por ti, aliado a uma profunda compreensão do teu ser, ajudar-te a sair dela, e acabei presa numa armadilha que é um espelho em ponto pequeno do teu grande labirinto, do qual, sei hoje, nunca sairás. Só nos apercebemos de que vivemos num labirinto quando se nos deparam labirintos ainda maiores. E o teu, meu querido e confuso amor, é dos mais vastos e complexos que já visitei."

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