segunda-feira


Sinto que inspiras e expiras desse lado, com medo de entrar. Ou melhor com medo de me veres. Tens um coração delicado, e nele consegues sempre aconchegar-me. Olhas-me dái e sentes que eu não te sinto, vês que eu não te vejo e não procuras o ponto de encontro, não sabes como fugir, só queres ficar ali, a ver-me de longe sentada naquele banco frio e áspero – como as tuas mãos têm estado ultimamente –, do café da esquina e observas o que os meus olhos não querem ver. Acenas-me com o braço e largas-me um beijo de alto, eu sem te conseguir chegar perto continuo a olhar, a ver como o céu se abriu e está um calor transtornante, mas nada que se compare aos teus braços que me aquecem sem descrição. Compreendes que o que nos separa é apenas um vidro, e que para o deitares abaixo terás de ultrapassar barreiras grandes. Não entendes o porquê de eu não te deixar, mas ao mesmo tempo não te querer por perto. Voltas a cabeça para um lado e para o outro e tentas passar a estrada até mim. Mas pensas e repensas que no fundo não existe explicação para nós, que no fundo tu seguiste e eu tenho que seguir também. Sentes uma lágrima a correr-te e a pingar-te entre dedos, viras as costas ao vidro, e sentas-te mesmo à minha frente do lado de fora. E eu mesmo sem te ver, consegui sentir-te. Mesmo sem te abraçar consegui cheirar o teu perfume, aquele que é inevitável de não me lembrar. Entras pela porta do café e pedes-me um cigarro, olhas para mim e ficas perplexo, as tuas mãos escorregam de suor de tanto nervosismo, o meu cabelo ganha brilho e sorri-te. Eu fico eu de novo, por inteiro, e pergunto-te se ainda te lembras de mim.

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